domingo, 16 de janeiro de 2011

Crônicas de Várzea: a Velha, o Fusca e a Mesa de Sinuca

Observando as pombinhas comerem os pedacinhos de pão que jogava, uma senhora, já quase surda e em idade avançada, acreditou ter escutado uma conversa suspeita. Interessada, prestou mais atenção: quatro homens num banco próximo planejavam roubar uma mesa de sinuca. Ironicamente, a mesa dela. A velha nem se incomodou. Achou até bom, ela odiava aquela mesa. Sempre que seus filhos iam visitá-la ficavam na garagem jogando snooker o tempo todo e a deixavam de lado.
Ao chegar em casa, a senhora, com a ajuda de um vizinho, tratou de deixar a mesa numa posição mais fácil de ser levada. Estava tudo conforme ela queria.
No outro dia, quando se levantou, a primeira coisa que fez foi ir até a garagem para ver se já haviam levado a tal mesa. Mas parou, atônita, à porta: o bilhar continuava do mesmo modo como fora arrumado no dia anterior, porém, seu fusquinha do coração não estava mais lá. Foi só então que percebeu ter ouvido mal a conversa no parque.
Passado o choque, a senhora notou um pedaço de papel jogado no chão. Era um pedido de resgate, queriam mil e quinhentos reais para devolver o seu tão estimado fusquinha. Ela ficou a observar o bilhete. Era um ticket de jogo da mega-sena, cujo resultado sairia em alguns dias. Curiosa, porém sem esperanças, assistiu ao sorteio: os números marcados no bilhete bateram com os sorteados!
Uma semana depois, a senhora desfilava pela cidade em um Audi A8 zero quilômetro, todo tunado, com uma frase na traseira: “Façam bom proveito do meu fusca!”




Enezilda Malaquina das Rosas
(pseudônimo.. uehueheuh) 
Mari Iastrenski

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